quinta-feira, 29 de março de 2012

MEMES, VOCÊ AINDA TERÁ UM.


NÃO SE FALOU EM OUTRAS COISAS NOS ÚLTIMOS DIAS... 

E pelo rumo que as coisas estão tomando, quando pararmos de falar desses, outros surgirão. Deu em tudo. Na internet, TVs e nas conversas e piadas. De “Luiza está no Canadá”, passando por “ai se eu te pego”, ao suposto estupro no BBB. Assuntos que, mais do que terem alguma relevância em si próprios – e definitivamente não têm –, pautaram as conversas dividindo o público entre os que odiavam esse “blá, blá, blá” em torno de temas fúteis, os que amavam a brincadeira  (grupo muitíssimo menor) e aqueles que se deleitavam com esse fortíssimo fenômeno midiático e social. Grupo esse formado certamente por publicitários e apaixonados pela Comunicação, como eu.

 Como assuntos tão triviais conseguem dominar nossas conversas assim? Esses fenômenos que já foram explicados ao excesso, os “memes”, sempre existiram. Tanto que o termo já existia na Grécia antiga. Engana-se quem, no afã de condenar o que consumimos hoje, trata a coisa como algo tão novo. Frases marcantes, propagandas ou fatos chocantes, sempre imprimiram na mente do público seus bordões. Ou delas partiram piadas não programadas. Isso é comum em morte de famosos onde sempre aparece uma piadinha dias depois. “Sabe quem fulano encontrou no céu e o que disse?”. Ou da propaganda do sutiã que a gente nunca esquece? Ou a bela camisa do “Fernandinho”? Fatos jornalísticos também geram suas frases de efeito, como o “vado a bordo” proferido ao capitão que abandonou o barco que afundava na Itália. Frase que virou “pop” e ganhou espaço em camisetas, piadas e na internet. Ou aqui no Brasil os peculiares “brasileiros e brasileiras” e “eu tenho aquilo roxo”.

 Tudo isso acontece não porque o ser humano é mais fútil hoje do que era há 80 anos. Ou que as pessoas ignorem que estamos em uma sociedade cheia de problemas. Contudo, ninguém pauta sua vida só por um aspecto. Que sejam, os problemas. Todo mundo tem suas preferências: uma música que gosta, um filme, um esporte, um trabalho desejado. Por sorte não ficamos o dia todo focados nos problemas. Fosse assim a humanidade já teria encontrado na autodestruição sua cura. É a aceitação desse pluralismo de interesses que faz de uma pessoa aceitável socialmente. Inclusive ideologicamente. Basta vermos o apelo de votos de candidatos que só focam em problemas em cada pleito. E até aqueles que acham as discussões citadas acima fúteis, certamente têm em suas gavetas seus segredinhos divertidos. Que seja, falar mal do que é popular. E nisso tudo, viva a democracia e viva a liberdade.

 O mais engraçado de tudo é que apesar de não melhorar a vida de ninguém, tais fatos acabam preenchendo uma lacuna enorme das discussões. Sobretudo na internet. Esse espaço sem dono e por isso mesmo democrático. Onde, até para protestar contra essas discussões fúteis, se cai nos mesmos fenômenos. Que o diga o jornalista Carlos Nascimento, que ao criticar na abertura do seu telejornal, essa discussão pela imprensa, acabou tendo seu vídeo multiplicado aos milhares. Enfim, até para criticar a onda, entra-se na onda. Que mundo maravilhoso esse.

 O certo é que essas coisas continuarão a ocorrer. E nunca de forma planejada. Porque se algo tem aderência, é porque é espontâneo. Principalmente na internet onde o espaço não é regido por um ou outro emissor. Mas por milhões, ao mesmo tempo, emplacando suas histórias, piadas e curiosidades. Algumas tão interessantes que são apropriadas por todos. Você pode até se irritar com isso. Mas cuidado para sua irritação não virar – também – mais uma onda que você condena.


"Tudo isso acontece não porque o ser humano é mais fútil hoje do que era há 80 anos. Ou que as pessoas ignorem que estamos em uma sociedade cheia de problemas..."











PAULO EDUARDO MONTEIRO VIEIRA
Jornalista
pauloeduardo.vieira@tvintegracao.com.br


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